Durante a chuva tudo estava
Descendo a Teodoro Sampaio alguém tenta conseguir uma moeda pra inteirar o busão, enquanto um casal briga, lá na janela, por alguma razão inaudível. Na calçada oposta um rapaz, mãos nos bolsos, pensa sonhos, possibilidades.
Na radial leste um ônibus com algumas pessoas leva alguém a um destino qualquer, que apesar da coincidência de itinerário, não diz respeito a nenhum de seus companheiros de viagem. No mesmo percurso, um bêbado conta sobre sua vida e até diz admirar todos ali, não apenas pelo enorme respeito que nutre pelos seus respectivos pais, mas em nome do esforço e dedicação evidentes em cada um, e que o Brasil, apesar de ganhar o jogo, estava uma bosta e que o Zagalo não tinha nada de botar o Dunga pra ser técnico.
Na Silvio Romero, um pastor exorciza no rádio de um táxi os males de um trabalho mal intencionado. No carro do lado, o locutor, um tanto rouco, um tanto empolgado, felicita um time do sul consagrado campeão da américa.
Talvez o garoto se surpreenda na rua escura... talvez não. Talvez Jesus volte enquanto o senhor de meia idade está com sua “amiga” e os fiéis nem percebam que alguém conseguiu uma moeda pra voltar pra casa. Talvez o casal brigando seja surpreendido por uma taça de vinho e uma rosa colombiana e o rapaz encare os sonhos e as possibilidades... talvez o bêbado, o pastor e o locutor estejam com a razão.
Talvez isso, talvez aquilo. Entre as quadras e os quadros é possível que nada disso tenha acontecido e talvez aconteça o tempo todo...
O tempo todo num lugar só. O liugar das possibilidades, das quadras e dos quadros.
A cidade senhore(a)s. Nossa matéria prima.
Alcimar Frazão
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