Desde então, não desenhei nada. Uma página sequer. Com os talentos de Cimá, Olavito, Mathé e Bottino, nunca achei que O Contínuo precisaria de mim.
Mas aí, muitos anos depois, surgiu a Copa do Mundo da África e a ideia de fazer experimentos narrativos sobre as copas que o Brasil conquistara… Decidimos tocar o projeto 5 Canecos - em parceria com a Abril.com - e percebi que era uma boa chance de voltar a fazer esse negócio.
Depois de escrever os experimentos sobre 58 (O Uniforme Azul) e 94 (Sob o Escaldante Sol da Califórnia), decidi desenhar o tricampeonato.
Copa do México, 1970.
Primeiro estudo da cena "crássica"
do Carlos Aberto com a Jules Rimet.
A primeira ideia para a história foi a partir da Lei de Gérson, termo criado em 1976 por conta de um polêmico comercial gravado pelo jogador para uma marca de cigarros onde ele afirmava gostar de levar vantagem em tudo. Toda a relação do governo Médici com a seleção, a demissão de João Saldanha, o “Pra frente, Brasil!”, o “Ame-o ou deixe-o”, todas essas informações me parecem inevitavelmente ligadas à façanha da seleção de Zagallo. Meus pais me ensinaram desde cedo que o futebol era o ópio do povo. Mas me ensinaram também a adorar o Corinthians e o futebol brasileiro.Já entrei no jogo com o prazo me enforcando, com um monte de outros trampos tanto d’O Contínuo quanto do IVO 60 (meu grupo de teatro). Não deu outra: fechei tudo na última hora.
Bem, segui os conselhos do Daltones e mandei bala. Depois de fechar o roteiro mandei um esboção direto no photoshop, usando a mesinha mágica da Wacon (uma tablet que temos desde os primórdios d’O Contínuo).
Veraneio 70, só no traço, sem os cinza. Em geral azul, foi o veículo favorito
da polícia política no Brasil..
Fotografei cada quadro (tive ajuda de um cara muito legal e bonito pra ser o modelo nesse trabalho: eu). Aí comecei um tal de revirar referências pra usar de fundo e textura e base das imagens. Foi imagem de veraneio, de torcida, do Carlos Alberto levantando a taça, de manifestação contra a ditadura militar, achei imagem de gente comemorando o tri em várias partes do país. Tudo pela internet. Até a lista dos desaparecidos políticos em 70 eu achei na rede (só tive que juntar dados de mais de uma fonte).Fotomontagem pra um dos quadros.
Fiz um monte de estudos sobre cada quadro, mandei os tons de cinza de cada coisa, escolhi, juntei tudo num arquivo do InDesign e mandei pro Olavo, que deu um belo tapa com suas magias de texturas e cores.O quadro com traço, cinzas base e detalhes.
O resultado ainda não é o ideal, eu sei, há muito o que aprender, mas agora que comecei (ou recomecei) não largo mão.Vê lá e diz o que acha: