
O Contínuo #6 era uma edição sobre futebol. Era também um marco para nosso grupo, já que foi a primeira vez que começamos a pensar a revista de uma maneira mais sólida. Pelo fechamento da edição anterior percebemos que os roteiros e arte eram pensados de forma individual, criando uma sensação desigual no todo do nosso produto final. No começo as histórias da revista eram pensadas em separado, eram discutidas em grupo, re-escritas, rediscutidas com os artistas e re-escritas novamente. Era um processo lento e desgastante que, ao final de tudo, gerava um produto (a revista no caso) desequilibrado, onde a parte era na sua concepção mais valorosa que o todo. Durante a edição final forçávamos a barra para criar alguma equidade. Quando as discussões do #6 começaram, a vontade coletiva de abordar um assunto interessante a todos começou a ganhar corpo.

A história de abertura seria baseada em um conto real de um amigo do Mathé, que só se deu mal no dia do jogo. E era aniversário dele. A do Pedro era a segunda, e era sobre uma lenda urbana de um japonês idoso. Se não me engano (eu não lembro da história mesmo, mas vou fantasiar) era sobe um cara que ajudava uma mulher a descer de um busão lotado. E de repente esse cara virou um mito. A minha era a terceira. Era sobre uma confusão que surgia na entrada do estádio. Era uma história pra falar mal da polícia, do machismo e apresentar o caos de uma maneira gráfica. Fechando a revista, Dalton ia falar sobre uma dupla de irmãos que davam sorte ao time.
Decidimos não falar do jogo.
Era o mais sensato. A partida em si era o que menos importava para a revista. Era o pretexto de tudo, não o fim. Mas isso não quer dizer que ali, dentro de nossas páginas, não tivesse ocorrido o jogo. Ele ocorreu, só não falaríamos dele. Pensamos em tudo, nos times escalações, quem fez o gol, como tinha sido a partida e o caralho. Escolhemos colocar a história no nosso recém inaugurado endereço na rede. Eu, junto com o Felipe, que era quem tinha colocado essa saga cibernética no ar, íriamos fazer um endereço de tiro curto. Iriam ter comentários como os do Lédio Carmona ou Zé Trajano, esses tipos caquéticos que não entendem nada de futebol, mas que por acreditarem ter algum senso ético num meio altamente corruptível se imaginam faróis de inteligência (a imagem do senador Pedro Simon me veio agora a cabeça).
Tava tudo certo, só que um problema (que agora é recorrente ao grupo) aconteceu. A França. Eu (não o Mathé, ele foi depois de mim, imitão!) tava de viagem marcada, e não entreguei o que devia. No fim, quando voltei de viagem, a guerra na porta do estádio tinha virado o Taco Solto (bem melhor, no fim das contas a ideia migrou de outra forma para o #7) o japonês virou um vendedor da FNAC e o site não tava mais em tempo de ficar pronto. E o tal do jogo nunca foi publicado. Até hoje.
A partida entre Caldense e Americano terminou com uma vitória de 1 x 0 para o Americano, gol de Adhemar aos 38' da segunda etapa. Os times não deviam representar nenhum time real, porque mudam a história e as cores, mas na prática todos os times são quase iguais (eu não concordo inteiramente com essa frase, mas foi o que decidimos em grupo). A ideia era que o leitor de alguma forma identificasse que o time ali era o seu (pra mim o Americano representa o Corinthians, pro Dalton, o São Paulo e assim por diante).

Já a Caldense, sensação do campeonato, jogou num ousado 4-3-3, e como nessas coisas que acontecem no futebol, mesmo tendo uma campanha melhor que o Americano, teve que disputar o jogo final fora de casa (o torneio disputado é uma espécie de Copa do Brasil). Viu seu meia "clássico", Brito, ter um fratura na perna esquerda no início do jogo. Brito, junto ao ponta esquerda, Almir, eram as sensações do campeonato. Estilo difícil de se encontrar, mas a forte marcação, um penâlti não dado e um gol mal anulado tiraram as esperanças da Caldense. O nome do time veio do estádio da Vila Belmiro (que se chama Urbano Caldeira), pois a primeira história se passava em Santos (dá até pra ver um pouco do estádio).
O Mathé planejou os brasões, uniformes e até uma propaganda de cerveja (em breve eu publico por aqui) que entraria no meio da revista. Eu tratei de desenhar os rostos dos jogadores que ele, Pedro e Dalton haviam selecionado.
Nem lembrava o que disso ainda existia. E no fim das contas, 2 anos depois que a revista foi publicada, eu posso dizer que foi assim o jogo que ninguém viu.
3 comentários:
Sensacional, não esperava ver esse material publicado. Botou pra fuder Carlão...
abrax do MTH
Carlão! Que história maravilhosa da partida, que eu nem me lembrava ou nem conhecia muito bem...
Só digo que agora, ainda que com o "Americano" contando com do "Reinaldinho", vou torcer pela "Caldense" nessa final de campeonato... Mesmo sem acreditar muito nessa porcaria desse time...
Bem, isso pra mim, pois de acordo com o Dalton o Americano foi desclassificado na semifinal por um time infinitamente superior... heheheheheh
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