na catraca

4.21.2009

história da partida que queria entrar para a história

Nota sobre os títulos: Já que quase plagiaram a velha, de agora em diante eu farei títulos quase igual a alguns que já existam.
Nem tudo o que produzimos chega a ver a luz das máquinas da gráfica. Edição, ao menos para mim, é as vezes um processo melancólico em que decidimos o que deve ficar de fora ou não. Nessa breve reformulação de nossa página (e catraca!) me cerquei de material antigo, e não é que encontrei algumas coisas interessantes que ficaram pelo caminho.

O Contínuo #6 era uma edição sobre futebol. Era também um marco para nosso grupo, já que foi a primeira vez que começamos a pensar a revista de uma maneira mais sólida. Pelo fechamento da edição anterior percebemos que os roteiros e arte eram pensados de forma individual, criando uma sensação desigual no todo do nosso produto final. No começo as histórias da revista eram pensadas em separado, eram discutidas em grupo, re-escritas, rediscutidas com os artistas e re-escritas novamente. Era um processo lento e desgastante que, ao final de tudo, gerava um produto (a revista no caso) desequilibrado, onde a parte era na sua concepção mais valorosa que o todo. Durante a edição final forçávamos a barra para criar alguma equidade. Quando as discussões do #6 começaram, a vontade coletiva de abordar um assunto interessante a todos começou a ganhar corpo.

Lembro que Dalton, Mathé e eu queríamos falar sobre a cidade em dia de jogo. Futebol é um assunto por demais importante na cultura nacional e sempre é lembrado por seu estereótipo. Tínhamos uma percepeção de que o tema nunca fora abordado corretamente. A cidade, objeto maior de estudo dessa revista, se transforma em dia de jogo e era sobre isso que queríamos falar. Sobre entrar num ônibus lotado de palmereisenses fanáticos e você mal acompanhar o esporte (e se perguntado em uma mesa de bar dizer que é torcedor do corinthians só pra não ficar em cima do muro). Decidimos então que todos os contos da revista ocorreriam no mesmo dia, uma final de campeonato.

A história de abertura seria baseada em um conto real de um amigo do Mathé, que só se deu mal no dia do jogo. E era aniversário dele. A do Pedro era a segunda, e era sobre uma lenda urbana de um japonês idoso. Se não me engano (eu não lembro da história mesmo, mas vou fantasiar) era sobe um cara que ajudava uma mulher a descer de um busão lotado. E de repente esse cara virou um mito. A minha era a terceira. Era sobre uma confusão que surgia na entrada do estádio. Era uma história pra falar mal da polícia, do machismo e apresentar o caos de uma maneira gráfica. Fechando a revista, Dalton ia falar sobre uma dupla de irmãos que davam sorte ao time.

Decidimos não falar do jogo.

Era o mais sensato. A partida em si era o que menos importava para a revista. Era o pretexto de tudo, não o fim. Mas isso não quer dizer que ali, dentro de nossas páginas, não tivesse ocorrido o jogo. Ele ocorreu, só não falaríamos dele. Pensamos em tudo, nos times escalações, quem fez o gol, como tinha sido a partida e o caralho. Escolhemos colocar a história no nosso recém inaugurado endereço na rede. Eu, junto com o Felipe, que era quem tinha colocado essa saga cibernética no ar, íriamos fazer um endereço de tiro curto. Iriam ter comentários como os do Lédio Carmona ou Zé Trajano, esses tipos caquéticos que não entendem nada de futebol, mas que por acreditarem ter algum senso ético num meio altamente corruptível se imaginam faróis de inteligência (a imagem do senador Pedro Simon me veio agora a cabeça).

Tava tudo certo, só que um problema (que agora é recorrente ao grupo) aconteceu. A França. Eu (não o Mathé, ele foi depois de mim, imitão!) tava de viagem marcada, e não entreguei o que devia. No fim, quando voltei de viagem, a guerra na porta do estádio tinha virado o Taco Solto (bem melhor, no fim das contas a ideia migrou de outra forma para o #7) o japonês virou um vendedor da FNAC e o site não tava mais em tempo de ficar pronto. E o tal do jogo nunca foi publicado. Até hoje.

A partida entre Caldense e Americano terminou com uma vitória de 1 x 0 para o Americano, gol de Adhemar aos 38' da segunda etapa. Os times não deviam representar nenhum time real, porque mudam a história e as cores, mas na prática todos os times são quase iguais (eu não concordo inteiramente com essa frase, mas foi o que decidimos em grupo). A ideia era que o leitor de alguma forma identificasse que o time ali era o seu (pra mim o Americano representa o Corinthians, pro Dalton, o São Paulo e assim por diante).

O Americano, tinha esse nome porque é um nome de time que tem em todo estado do Brasil. É como América ou Atlético. É um nome genérico. É um time em plena decadência, seus astros não eram tão grande coisa assim. Tínhamos pensado que seria a volta do Reinaldinho (de "Destino em P&B", publicado em O Contínuo #4), mas descartamos essa ideia (o Reinaldinho não, ó ele pegando o Santos nesse domingo, pela final do Paulistão 09). O time, um amontoado de jogadores de pouca categoria, viu seu lateral esquerdo, Adhemar se sagrar. Adhemar nunca havia feito um gol antes. Foi o primeiro e último de sua carreira. Após o jogo decidiu se aposentar. Com um time mais fraco do que a sensação do campeonato (a Caldense) se segurou desde o primeiro tempo, após expulsão de Marçal aos 7' (Marçal é desse tipo de jogador de meio campo que só existe no futebol brasilleiro). Para recompor o meio campo, o técnico substitui Testinha por Anderson, uma espécie de Paulo Baier, um jogador sem compromisso tático nenhum, uma espécie de boleiro de praia, que até é bom, mas não se encontra em nehum time. Testinha dá um soco na cara do técnico ao sair e não comemora o título com os outros jogadores. O único gol da partida ocorreu por uma falha de marcação em um escanteio. Foi um gol de orelha, sofrido, com a cara do Americano.

Já a Caldense, sensação do campeonato, jogou num ousado 4-3-3, e como nessas coisas que acontecem no futebol, mesmo tendo uma campanha melhor que o Americano, teve que disputar o jogo final fora de casa (o torneio disputado é uma espécie de Copa do Brasil). Viu seu meia "clássico", Brito, ter um fratura na perna esquerda no início do jogo. Brito, junto ao ponta esquerda, Almir, eram as sensações do campeonato. Estilo difícil de se encontrar, mas a forte marcação, um penâlti não dado e um gol mal anulado tiraram as esperanças da Caldense. O nome do time veio do estádio da Vila Belmiro (que se chama Urbano Caldeira), pois a primeira história se passava em Santos (dá até pra ver um pouco do estádio).

O Mathé planejou os brasões, uniformes e até uma propaganda de cerveja (em breve eu publico por aqui) que entraria no meio da revista. Eu tratei de desenhar os rostos dos jogadores que ele, Pedro e Dalton haviam selecionado.

Nem lembrava o que disso ainda existia. E no fim das contas, 2 anos depois que a revista foi publicada, eu posso dizer que foi assim o jogo que ninguém viu.

3 comentários:

Mathé disse...

Sensacional, não esperava ver esse material publicado. Botou pra fuder Carlão...

abrax do MTH

Olavo Costa disse...

Carlão! Que história maravilhosa da partida, que eu nem me lembrava ou nem conhecia muito bem...
Só digo que agora, ainda que com o "Americano" contando com do "Reinaldinho", vou torcer pela "Caldense" nessa final de campeonato... Mesmo sem acreditar muito nessa porcaria desse time...

Carlos T. Lemos disse...

Bem, isso pra mim, pois de acordo com o Dalton o Americano foi desclassificado na semifinal por um time infinitamente superior... heheheheheh